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Lembro-me da minha mãe estar horas a fio a lavar a roupa em pleno inverno, a chover e a fazer frio e ela encostada ao tanque. Eu espreitava na janela que dava para o quintal, atenta aos movimentos das mãos que empurravam a roupa contra o ondulado de cimento da bancada do tanque, uma e outra vez, passava o sabão nas nódoas mais difíceis e a escova para branquear os colarinhos das camisas.

Depois enxaguava a peça na água fria várias vezes até não existir vestígios de espuma. Esta dança de movimentos era repetida peça após peça.

Por vezes, a minha mãe vinha a correr à cozinha, com as mãos vermelhas para as aquecer na lareira. E ficava ali parada a mexer lentamente os dedos que lhe doíam tal não era a sensação do frio extremo. Imaginem 5, 6 quilos de roupa, o que equivale mais ou menos à quantidade de roupa que todos os dias colocamos nas nossas máquinas de lavar, e ter de lavar tudo à mão, peça por peça. Não conseguimos conceber o que seria ter de fazer isto!

E também me lembro de ir à ribeira lavar a roupa na aldeia da minha avó, onde as pedras onde se esfregava a roupa eram marcadas à vez, espetavam-se paus nas paredes que serviam para pendurar a roupa lavada e as pedras secas serviam para por a roupa a corar ao sol. Ricas memórias daquelas que não enriquecem em ouro, mas em vivências…

Representação dos tempos em que se lavava a roupa na ribeira

 

Diário de uma Alquimista…

Escrito por: Andreia Gonçalves

 

2 comentários

  • Joaquim Silvério Dias Mateus2 anos ago

    É impossível ficar indiferente! Este projeto e, sobretudo, as invocações feitas nos textos e nas fotos exibidas levam-nos às nossas origens, às raízes de todos os que nasceram nessas casas de xisto, onde nem sequer havia eletricidade e, nas noites das longas invernias, o conforto a que se podia aceder passava apenas pela lareira e pelas mantas aconchegantes que, bem cedo pela manhã era necessário esquecer, porque a escola ou as tarefas domésticas, devidamente lembradas pelo ralhete dos mais velhos, a isso obrigavam.
    Mas estes textos e estas fotos lembram-nos também aqueles que fizeram das pedras pão, aqueles que sempre lá estiveram e que nunca desistiram, lembram a sua sabedoria, a sua capacidade de resistência, o quanto têm para nos ensinar.
    Parabéns às autoras, merecedoras de todos os louvores e de todos os incentivos!

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